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Risco de câncer e apneia obstrutiva do sono concomitantes supera 50%

Qual a relação entre o sono e o câncer? Durante uma apresentação no World Sleep Congress 2023, realizado no Rio de Janeiro, pesquisadores dos Estados Unidos, Brasil e Canadá mostraram que essa interação é complexa e ocorre em uma “via de mão dupla”.

Eles apresentaram um panorama geral, que contemplou desde os aspectos biológicos e clínicos até as melhores formas de abordagem em casos de distúrbio do sono em pacientes oncológicos.

A prevalência de apneia obstrutiva do sono (AOS) é alta entre indivíduos com câncer. Segundo o Dr. Gilles Lavigne, da Université de Montréal no Canadá, uma metanálise publicada em 2022 no periódico Medicine (Baltimore) identificou que o risco de câncer e AOS concomitante é de 53%.

Além disso, o palestrante pontuou que as pesquisas vêm mostrando que a hipóxia intermitente da AOS está independentemente associada à prevalência de câncer, particularmente de pulmão, de próstata e melanoma. 

Pesquisas básicas: hipóxia e câncer

Diferentes trabalhos vêm avaliando os efeitos da hipóxia em células cancerígenas. Segundo o Dr. David Gozal, da Marshall University nos Estados Unidos, estudos in vitro com células humanas de câncer de pulmão revelaram, por exemplo, que a hipóxia sustentada e a hipóxia intermitente afetam de formas distintas a taxa de proliferação dessas células. Além disso, diferentes linhagens são afetadas também de formas diferenciadas pela hipóxia intermitente. Outro aspecto observado é que padrões distintos de hipóxia intermitente — que refletem diferentes níveis de gravidade de apneia do sono — também, exercem efeitos distintos nas células estudadas. 

Há ainda dados provenientes de estudos em modelo animal. O Dr. David apresentou uma pesquisa publicada em 2020 no periódico Scientific Reports Nature Research que avaliou os efeitos da hipóxia intermitente na progressão de tumores pulmonares em camundongos. Os resultados mostram que a hipóxia intermitente crônica induziu proliferação e metástase do câncer no modelo animal.

Diante dos achados, o Dr. David destacou que “as diferenças observadas nos estudos indicam que, quando formos desenvolver terapias, elas deverão ser personalizadas”.

Ainda com relação aos aspectos biológicos que ligam o câncer ao sono, o Dr. Jeremy Borniger, do Cold Spring Harbor Laboratory, nos Estados Unidos, explicou que o cérebro desempenha um papel ativo na detecção e na resposta aos sinais do organismo induzidos pelo câncer.

Durante apresentação no congresso, ele explicou que pesquisas em animais têm mostrado que a modulação da atividade neuronal central tem efeitos que podem ser aproveitados para atenuar a progressão do câncer.  No entanto, lembrou que o tempo é um elemento crucial e que ainda existem lacunas importantes a serem preenchidas. “Ainda precisamos determinar como o câncer altera a função neuronal e como a atividade neuronal impulsiona a progressão do câncer”, disse.

Qual a conduta a ser adotada para pacientes com câncer e distúrbios do sono?

Quando há dor e distúrbios do sono, o Dr. Gilles lembrou que o uso de opioides deve ser considerado. “Não devemos estigmatizar o nosso paciente com relação ao uso de opioide”, destacou.

Já no que diz respeito à AOS, a Dra. Cibele Dal Fabbro, da Université de Montréal e do Instituto do Sono de São Paulo, lembrou que o uso de ventilação com pressão positiva contínua das vias respiratórias (CPAP, sigla do inglês Continuous Positive Airway Pressure) tem sido associado a menor mortalidade por todas as causas em pacientes que apresentam esse distúrbio do sono. 

E, quanto ao câncer, também há dados sugerindo que a CPAP pode ter um papel protetor. Segundo a Dra. Cibele, existem estudos, por exemplo, mostrando que a radioterapia assistida por CPAP é tolerável e pode ainda ser capaz de gerar um plano de tratamento superior para o câncer de mama esquerda. 

Mas apesar das vantagens, nem sempre é possível lançar mão da CPAP em pacientes oncológicos. A palestrante lembrou que, no caso do câncer de cabeça e pescoço, outra neoplasia com prevalência aumentada de AOS concomitante, a literatura mostra que a adesão a esse dispositivo é baixa. 

Existem, no entanto, alternativas à CPAP. A Dra. Cibele citou, por exemplo, a estimulação do nervo hipoglosso e o dispositivo de protrusão mandibular. Atualmente, a especialista e a equipe da Université de Montréal estão conduzindo um estudo no qual avaliam o efeito desse dispositivo em pacientes com câncer de cabeça e pescoço (Projet RONCO-ONCO).

Fonte: Medscape