Várias celebridades afirmam que dormem pouco para produzir mais. Contudo, esse hábito pode causar danos cognitivos até mesmo àqueles que dormem 6 horas por noite. Um estudo recentemente divulgado mostrou que o déficit de sono é discreto: 10 dias dormindo 6 horas, segundo a pesquisa, ocasiona o mesmo efeito na cognição do que passar uma noite inteira acordado. Assim, diminui reflexos, velocidade de reação e capacidade de interpretar textos.
O experimento foi feito na Universidade de Berkeley, na Califórnia, solicitando que os voluntários dormissem exatamente 8 horas em uma noite. No dia seguinte, fizeram provas escritas e testaram seus reflexos normais. Os participantes também receberam tarefas para ver quantas vezes se dispersavam. Depois, os voluntários foram divididos em dois grupos. O primeiro continuou a dormir 8 horas; o outro, 6 horas. O terceiro, 4 horas. O último tinha de virar a noite por até três dias seguidos e, a cada dia, repetiam os testes.
O grupo que passou a noite em claro apresentou os sinais de problema antes. O desempenho após uma única virada já equivalia ao de um bêbado. Os outros grupos demoraram, mas chegaram no mesmo resultado: quem dormiu 4 horas tinha um desempenho pior conforme passavam os dias. No terceiro dia, a perda cognitiva era igual à de uma noite de insônia. Aqueles que dormiram 6 horas levaram 10 dias para chegar no nível alcoólico de cognição atrapalhada.
O curioso é que os participantes não notavam o declínio de suas capacidades. Depois da primeira noite, os pesquisadores perguntaram como tinha sido a prova, e os voluntários que dormiram apenas 6 horas afirmaram ter tido um desempenho ótimo. Contudo, os testes de leitura e reflexo informavam o contrário. O pior é que os danos se intensificavam a cada noite e não se estabilizaram. Ninguém se habituou à falta de sono.
Outra questão muito comum é recuperar as horas perdidas no fim de semana. Essa compensação, segundo os pesquisadores, não adianta. O experimento permitiu que todos os grupos dormissem o quanto quisessem por três dias. A cognição melhorou, mas continuou abaixo do nível inicial. A conclusão do estudo foi de que o fim de semana não é suficiente para readequar o sono: o cérebro precisa de, no mínimo, oito horas por noite a longo prazo.